Intimidade e Amor

         
        Somos, de tal modo, dois e únicos,
a noite não pode ser tão céu
o céu não pode ser tão sol
sou tão eu através de você.
_ E. E. Cummings

As pessoas plenamente atuantes reconhecem sua necessidade das outras. Não consideram esta necessidade de amor e intimidade como uma exigência para serem menos do que são, mas sim como um meio para refletir seus vastos potenciais e partilhá-los com os outros. Não se sentem restringidas pelo amor ou intimidade, mas os veem como uma oportunidade notável para o desenvolvimento. Compreendem que não podem, jamais, possuir outra pessoa e não tem o desejo de serem assim possuídas. Sabem que a intimidade une as pessoas, mas que é responsabilidade de cada uma manter a autonomia; que elas devem desenvolver-se separadamente a fim de continuarem a crescer com os outros. O amor e a intimidade são desafiados, não ameaçados por diferenças. As pessoas plenamente atuantes sabem que quando dois indivíduos decidem formar um relacionamento íntimo estão unindo dois mundos diferentes, e, como tal, não apenas trazem um para o outro as generalidades únicas, mas as diferenças também. São as diferenças que continuarão a estimulá-los ao desenvolvimento. A profundidade de nosso amor pode, em geral, ser avaliada pelo grau do nosso desejo de partilhar a nós mesmos com os outros. Começamos com dois eus isolados. Estabelecemos um espaço partilhado entre os dois eus e o chamamos de nós. É neste espaço que a intimidade cresce. Quanto maior a experiência partilhada, maior a área do nós.


O amor e a intimidade tem muitas fases, e portanto estarão mudando constantemente. A intimidade do primeiro encontro não será a intimidade da lua-de-mel, mas haverá muitas luas-de-mel; a lua-de-mel do primeiro apartamento de um quarto, com móveis emprestados; a lua-de-mel do primeiro filho; a lua-de-mel do pagamento da entrada de uma primeira casa; a lua-de-mel da primeira promoção importante; a lua-de-mel de crescer com a família, observando os filhos formarem suas próprias famílias; a lua-de-mel de envelhecer juntos. Cada lua-de-mel será nova e criará penetrações posteriores de intimidade. É essencial, portanto, que a pessoa plenamente atuante esteja constantemente consciente e aberta à mudança. A pessoa em nossos braços hoje não será a mesma pessoa amanhã, ou mesmo, quanto a isso, na próxima hora. O amor não é nutrido ou aumentado olhando-se para trás, é sempre vivido no presente. 
O amor e a intimidade maduros não se baseiam em expectativas. Desde que ninguém, nem mesmo um santo, pode conhecer ou satisfazer todas as nossas expectativas, esperar dos outros é cortejar a dor e o desapontamento. A única expectação válida no amor jaz na esperança de que aqueles que amamos se tornarão eles mesmos, enquanto fazemos o mesmo. O amor dado por um senso de dever ou obrigação é o maior insulto e, por conseguinte, não é amor, de forma alguma.


A intimidade e o amor verdadeiro crescem melhor na espontaneidade e oferecem um grande número de oportunidades a experiências de alegria, beleza e riso. Todos conhecemos a maravilha de partilhar uma experiência máxima com outra pessoa, quer de riso ou dor. Por um momento, a experiência partilhada tomou duas pessoas e converteu-as em uma. Estes instantes de intimidade profunda continuarão a tornar o amor mais reconfortante, excitante e vigoroso.
A intimidade madura, como sugerido antes, envolve o físico. Uma necessidade sensual de estar perto dos seres amados, de fazer contato fisicamente, de conservá-los e mantê-los próximos, parece lhe ser integrante. Portanto a intimidade madura exigirá que as pessoas plenamente atuantes cheguem, em primeiro lugar, a um acordo com sua própria sexualidade. Necessitamos nos sentir satisfeitos com nossa individualidade sexual, antes de arriscarmo-nos com a revelar nossa sexualidade, livre e sinceramente, a outra pessoa. Isto não significa que desejamos ser abertamente sexuais com todos por quem nos apaixonamos. Em um sentido mais amplo, relaciona-se com a gratificação sexual em que podemos ficar satisfeitos apenas por estar no mesmo espaço com outra pessoa, segurando nosso filho, partilhando profundamente com um amigo.
Não há, talvez, ação mais natural, nem mais plenamente satisfatória da qual a pessoa seja capaz, do que a que é encontrada em uma intimidade sexual madura. Aqui, em sua forma mais elevada, jaz um desejo profundo de fundir-se totalmente com o outro ser. É uma expressão suprema de amor combinando todas as suas manifestações positivas - afeição, doação, partilha, proteção, conformação, aceitação, submissão e adoração. A sexualidade, quando é uma expressão do verdadeiro amor, pode ser a harmonia humana final.


Amor e intimidade requerem alguma expressão verbal. Muitas vezes, presumimos que a outra pessoa ou pessoas sabem o que estamos pensando ou como nos sentimos. Ficamos surpresos, frequentemente, ao descobrir que isto não é verdade. É responsabilidade do amante estender as mãos e tocar o coração do ser amado - uma palavra, um bilhete, um simples poema podem trazer a mensagem muito necessária de confiança. A pessoa nunca se cansa de conhecer o amor expressado
(...)

(...) As pessoas plenamente atuantes sabem que o amor deve ser, principalmente, autodidata e é mais bem aprendido através, simplesmente, da vulnerabilidade ao amor e de vivê-lo como amantes humanos dedicados cada dia de nossas vidas.



 - Extraído do livro Assumindo A Sua Personalidade - Aproveite da vida tudo que ela tem para oferecer, de Leo Buscaglia, 1978.